Um prefácio avulso - R.S.Merces

Meu relógio biológico não me deixa passar das seis da manhã durante o final de semana. Se não me bastasse acordar a semana inteira antes mesmo do sol nascer, os dias de descanso iniciam dentro de um ciclo de aborrecimentos e desgastes sentimentais. Há uma razão para esse meu hábito e o que diz sobre minha juventude nada assemelhasse. O corpo que transmite calor sobre a coberta carece de amor tanto quanto eu. O desejo que reagia sobre mim como adrenalina a partir do despertar e me conferia uma nova aventura por terras desconhecidas esvaísse mesmo que os sonhos lembrem-me da felicidade ao acordar aquele por quem eu sofro de amor até hoje. Instintivamente, eu levanto e caminho até o jardim onde fico a observar o orvalho sobre o verde e as flores pelas quais minha mãe lutara tanto contra a desistência do meu pai para cuidar. É a única parte da casa que eu consigo sentir a presença dos dois juntos, o resto caíra na modernidade e não me lembrava em nada minha infância. O sol que luta ...